Indefinição
Cinco anos no papel
Projeto do hotel-escola tranca na burocracia e alunos e professores temem a devolução do prédio
Jô Folha -
É sexta-feira à tarde e, em meio a divisórias desmontadas e pessoas circulando, alunos do curso superior de Tecnologia em Hotelaria da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) tentam estudar. Em uma mesa de reuniões instalada no meio do saguão, uma professora tenta vencer o burburinho para falar aos estudantes sobre aspectos legais do ramo hoteleiro. Um bom retrato da situação atual do Grande Hotel. O patrimônio da cidade doado à universidade com o objetivo de se tornar hotel-escola para formar profissionais, ao mesmo tempo em que serviria como hospedagem e atração turística, continua sendo um ambiente universitário improvisado.
Inaugurado em 1928 e desativado em 2002, o luxuoso hotel tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) até hoje aguarda por um restauro que recupere suas instalações. Enquanto isso, profissionais e acadêmicos usam o local na esperança de ver o início das obras. Quando repassado pela prefeitura à UFPel, o projeto previa investimento federal de R$ 8 milhões para o restauro, transformando o último piso em sede do curso, enquanto os demais seriam, de fato, hotel com restaurante, bar e estrutura para visitantes e turistas. Tudo isso em cinco anos, caso contrário o prédio teria que ser devolvido. Prazo que esgotou no começo do ano.
A coordenadora da Hotelaria da UFPel não esconde a frustração e, principalmente, a preocupação com o futuro. “O prazo esgotou e estamos em risco de perder o prédio, no caso de não vir essa verba do Iphan ou de outro órgão”, diz Michele Chiattone. Ela e a irmã e também professora Priscila foram as idealizadoras do curso que já formou quatro turmas e hoje tem 90 alunos.
Somente com o térreo liberado e sem as melhorias prometidas - que tornariam o único curso púbwlico do tipo a ter um hotel-escola -, os alunos usam a criatividade. Para as práticas de hospedagem e governança, um quarto é montado no saguão. Cama e outros móveis compõem o cenário que, depois do uso, volta a ficar guardado em um canto à espera do próximo treinamento. Salas de aula, mesmo, são três, sendo apenas uma delas isolada. As demais, incluindo o laboratório de informática, são separadas por divisórias que não chegam ao teto. Ou seja: em caso de atividades simultâneas, os ruídos se misturam.
“Será preciso pressão política”
O reitor da UFPel, Pedro Curi Hallal, explica que, após adequações no projeto arquitetônico original, a documentação foi reenviada ao Iphan em Porto Alegre e em Brasília no ano passado e que mantém contato com a prefeitura sobre prazos e viabilidade da reforma do Grande Hotel. No entanto, indica a necessidade de mobilização para que o hotel-escola saia do papel. “Dado que tudo esteja correto e o Iphan aprove o projeto, ainda será preciso pressão política para que se trate o assunto como prioridade e haja liberação dos recursos”, explica.
Segundo a prefeita Paula Mascarenhas (PSDB), mesmo com o prazo de cinco anos expirado, não existe intenção do município retomar o controle do prédio. “Sei que o reitor está em contato com o Iphan e aguarda aprovação do projeto”, afirma. Ela atribui a dificuldade de restauro à crise financeira do governo federal que atingiu também a restauração do Theatro Sete de Abril e a revitalização da praça Coronel Pedro Osório. “Tudo isso tem a mesma causa: estancaram os recursos do PAC Cidades Históricas.”
A UFPel assegura que, com dinheiro liberado, licitação concluída e empresa contratada, em dois anos a obra estaria finalizada e o hotel-escola funcionando. Até lá, os alunos lamentam a situação. “Se tivéssemos o hotel-escola do projeto seria muito interessante, pois sairíamos com a experiência prática dos restaurantes, apartamentos. É o que estamos esperando e torcendo para que aconteça”, diz Magali Goularte, 44, estudante do último semestre.
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